Muitos strikers eram temidos na época do PRIDE. Wanderlei Silva, Mirko Cro Cop,
Rampage Jackson e vários outros. Mas um deles se sobressai não apenas
por seus golpes devastadores, mas também por ser o mais jovem lutador a
conquistar tantos nocautes fantásticos no extinto evento japonês.
Somando todo o seu cartel, são 19 vitórias, sendo 16 delas por nocaute e
apenas cinco derrotas. Um homem que começou jovem e botou medo em muito
veterano e ainda está nas cabeças. Maurício “Shogun” Rua, o sujeito
simples, de fala tranqüila e atrapalhada que já botou muito marmanjo
para beijar a lona e foi o campeão mais jovem do PRIDE.
Maurício é
curitibano, vindo de uma família de classe média alta e que começou a
ter interesse por artes marciais por influência de seu irmão mais velho,
Murilo Rua. Aos 15 anos Shogun começou a praticar muay thai e aos 17
jiu-jitsu na famosa academia de artes marciais Chute Boxe, que era uma
das maiores do mundo na época e eterna rival da Brazilian Top Team. Com
apenas 19 anos, Maurício decidiu o que queria em sua vida: ser um
lutador profissional.
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Os irmãos Rua, da esquerda para a direita: Maurício "Shogun", Marcos "Shaolin" e Murilo "Ninja". |
Com 20 anos, Shogun
fez sua primeira luta profissional. Muitos lutadores brasileiros de
renome no mundo do MMA sequer lutaram em seu país natal. Já Shogun teve a
oportunidade de lutar em casa, em Curitiba mesmo, em um evento chamado
Meca World Championship. Venceu Rafael Capoeira com um chute alto direto
no rosto, causando o nocaute imediato. Em sua segunda luta venceu o
também brasileiro Ângelo Antônio com um seqüência destruidora de chutes
em apenas 55 segundos. A terceira luta, já com 21 anos, e a última
apresentação no Meca, venceu Evangelista “Cyborg” Santos em uma luta
movimentada em que Shogun mostrou sua versatilidade, vencendo a luta em
pé e dominando no chão. Conseguiu uma boa posição e bombardeou Cyborg
com socos até o juiz interromper o combate. O jovem curitibano havia
chamado a atenção do mundo.
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Shogun dominou Cyborg no Meca World Vale Tudo 9. |
As
duas lutas seguintes de Shogun ocorreram em um evento americano chamado
IFC. Era um torneio, portanto Shogun fez essas duas lutas na mesma
noite. Primeiro venceu Erik Wanderley, derrubando o adversário duas
vezes com golpes, uma vez com um chute alto e a outra com socos. Mesmo
com Erik tentando manter a luta com seu jiu-jitsu, Shogun conseguiu
vencer por nocaute mais uma vez.
Mas
o lutador seguinte não era iniciante como os outros que Shogun havia
enfrentado. Muito pelo contrário, tratava-se de um veterano muito casca
grossa, que já havia lutado com Fedor Emelianenko, Dan Henderson,
Chuck Liddell e Kevin Randleman: Renato “Babalu” Sobral. Babalu sabia
da enorme capacidade em pé de Shogun, portanto, tratou de levar a luta
para o chão o mais rápido possível e mantê-la lá. Foi uma luta de chão
movimentada durante os três rounds, terminando quando Sobral conseguiu
encaixar uma guilhotina e finalizar a luta. Shogun conehcia sua primeira
derrota, mas isso não quer dizer que fechariam os olhos para ele. O
brasileiro estava em ascensão. Abaixo você pode conferir a luta dos dois
no IFC:
Shogun, depois
de suas lutas impressionantes, foi contrato pelo maior evento de MMA da
época, o lendário PRIDE. Até então, Shogun só havia enfrentado
compatriotas e conseguido ótimos resultados. Enfrentando estrangeiros
não foi diferente. Shogun venceu os japoneses Akira Shoji, Akihiro Gono,
Yasuhito Namekawa e Hiromitsu Kanehara. Venceu todos por nocaute e
nessas lutas mostrou uma seqüência que seria uma de suas marcas
registradas no PRIDE: os pisões e os chutes na cabeça. Estava na hora de
enfrentar outro temido striker e entrar no GP que lhe consagraria um
dos melhores lutadores do MMA mundial.
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Shogun contra Hiromitsu Kanehara. |
Em
2005 começou o GP para os pesos meio-pesados do evento. O PRIDE os
melhores lutadores da categoria em um torneio mata-mata, entre eles
estavam Vitor Belfort, Alistair Overeem, Igor Vovchanchyn, Dan Henderson, Rogério Minotouro, Wanderlei Silva,
Kazushi Sakuraba e Ricardo Arona da Brazilian Top Team (a rival da
Chute Boxe de Shogun). Não importava quem vencesse quem, Shogun só teria
lutadores de altíssimo nível pela frente. E o brasileiro começou
enfrentando nada menos do que o americano Quinton “Rampage” Jackson,
outro lutador de força excepcional.
É muito comum
entre lutadores as famosas “encaradas”, principalmente no tempo do
PRIDE, quando as rivalidades eram maiores. Rampage Jackson sempre é um
lutador que gosta dessas encaradas, sempre tentando intimidar o
adversário. Shogun nunca foi adepto disso, sempre olhando normalmente
para o oponente e o cumprimentando como um verdadeiro esportista. Quando
Rampage chegou pero de Shogun, mostrou a mesma humildade, sinal de que
ele respeitava o jovem prodígio brasileiro. Maurício Shogun havia se
tornando um striker temido. A luta entre os dois foi rápida, como a
maioria das lutas de Shogun, terminando com a vitória do brasileiro
depois de golpes terríveis com os joelhos e pernas. Confiram o castigo
que Shogun deu em Rampage:
Depois de
atropelar Quinton Rampage Jackson, Shogun veio a enfrentar o primeiro
“inimigo declarado” dele no torneio: Antônio Rogério “Minotouro”
Nogueira, o irmão gêmeo do peso pesado Rodrigo Minotauro.
Apesar de não existir nenhum atrito entre os dois, as academias que
ambos representavam eram rivais: a Chute Boxe de Shogun e a Brazilian
Top Team de Minotouro eram inimigas declaradas. A luta contra Minotouro
foi a mais dura de Shogun até aquele momento, depois de uma trocação
franca por três rounds, com knockdowns dos dois lados e um bom jogo de
chão mostrado por ambos. Foi a prova de fogo de Maurício Rua. Sobreviver
ao jogo de chão de Minotouro mostrou que o curitibano era um lutador
completo. Uma vitória muito apertado por pontos de Shogun, porém, muito merecida. Infelizmente só achei a primeira parte da luta, mas mesmo assim, dê uma conferida:
Depois de vencer a
locomotiva ucraniana Igor Vovchanchyn com uma guilhotina em 1:20,
Alistair Overeem passou para a próxima fase do torneio e teve como
adversário o jovem Shogun. Por incrível que pareça, Overeem levou
vantagem na luta em pé por ter um kickboxing afiado e por ser muito mais
alto e com envergadura muito maior que Shogun. O brasileiro fez de tudo
para levar o holandês para o chão, mas a defesa de quedas de Alistair
sempre foi muito boa. Quando finalmente Shogun levou Overeem para o
chão, o holandês encaixou uma guilhotina muito justa. Era o fim, todos
pensavam. Overeem havia vencido os dois adversários anteriores dessa
maneira. Overeem iria para a final pelo que aparecia. M,as Shogun
mostrou sua alma de campeão e conseguiu sair da submissão e castigou
Overeem no groun and Pound. Overeem até conseguiu levantar, mas o
estrago já estava feito. Shogun derrubou o grandalhão mais uma vez e o
castigou com socos e cotoveladas até o juiz interromper a luta. Mais um
nocaute e Shogun havia garantido sua vaga na final do GP.
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Shogun golpeando Alistair Overeem. |
No
mesmo dia em que derrotara Overeem, Shogun lutaria na final do torneio.
Era outro combate entre Chute Boxe e Brazilian Top Team. Maurício
“Shogun” Rua contra “The Brazilian Tiger” Ricardo Arona. Ambos estavam
exaustos devido as lutas anteriores. Arona sofreu mais lutando contra Wanderlei Silva
na semifinal, mas mesmo assim os dois concordaram em lutar. Foi uma
luta rápida, movimentada e bonita. Nada de enrolação. Combate franco.
Não achei nenhum vídeo na internet, por isso baixei a luta e upei para
vocês. Viu como O Bronco manja?
Maurício
Rua, o mais novo competidor do PRIDE GP 2005, havia se tornado o
campeão. Era a consagração de Shogun como um dos striker mais temidos do
MMA, além de mostrar ser um lutador versátil e valente. A carreira no
MMA só havia dado bons frutos até o momento, o que iria mudar em sua
próxima luta. Depois de vencer o GP, foi casada a luta entre Shogun e
Mark "The Hammer" Coleman. Mas a luta não acabou como ninguém gostaria.
Depois de menos de um minuto de combate, Coleman derrubou Shogun, que
caiu de mau jeito e deslocou visivelmente o braço. Mesmo assim Coleman
não quis saber, talvez fosse loucura por causa dos esteróides ou apenas o
calor do combate, mas o americano partiu pra cima do brasileiro
lesionado pronto para massacrar Shogun. Empurrou o juiz de lado e Shogun
só não foi golpeado porque os companheiros da Chute Boxe entraram no
ringue e confrontaram Coleman. Depois do ocorrido, Mark Coleman se
arrependeu e foi pedir desculpas para Shogun nos bastidores. O clima
esquentou e Wanderlei
quis sair na porrada e tudo mais. O mais curioso é que Shogun estava
tranqüilo, pouco ligando pelo que estava acontecendo enquanto Wand
estava visivelmente irritado. O vídeo com esses acontecimentos tá ai
embaixo:
Depois
de deslocar o braço e ficar sete meses sem lutar, Shogun voltou aos
ringues novamente com vitórias. Venceu o francês Cyarille Diabate por
nocaute, obteve sua primeira vitória por submissão vencendo “The
Monster” Kevin Randleman, nocauteou Kazuhiro Nakamura e teve sua última
luta pelo PRIDE contra o holandês Alistair Overeem. Shogun conseguiu
lutar melhor contra o holandês nesse segundo confronto e colocou o
grandão para dormir. Pobre Overeem. Imagino que antes de dormir todas as
noites, ele deve ver o punho de Shogun vindo em sua direção. Olha aí:
Com o fim do PRIDE, o melhor striker da época não poderia ficar sem emprego. Logo Shogun foi cotato para o UFC para enfrentar o primeiro vencedor do The Ultimate Fighter, reality show que salvou o UFC, Forrest Griffin. Os dois fizeram uma luta disputada, tanto em pé quanto no chão, mas infelizmente Shogun acabou sendo finalizado com um mata-leão no terceiro round, chocando o mundo o obtendo sua terceira derrota na carreira. Isso credenciou Griffin a brigar pelo cinturão dos meio-pesados do UFC, enquanto Shogun enfrentaria um velho rival.
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Shogun e Griffin fizeram um combate equilibrado, mas o americano levou a melhor. |
Depois de perder
para Forrest, Shogun enfrentou outro americano. Mark “The Hammer”
Coleman. Uma luta, por incrível que pareça, muito disputada. Mesmo com
Coleman 17 anos mais velho, Shogun teve muitas dificuldades para bater o
americano. O combate aconteceu tanto em pé quanto no chão, inclusive
com ótimos momentos de Coleman no ground and pound. Parecia que Maurício
estava fora de forma, lento, apático e com um jogo tímido. Conseguiu
vencer Coleman aos 4:25 do terceiro round, terminando a luta exausto.
Vingou seu braço deslocado, mas não fez como o antigo Shogun teria
feito.
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Shogun passou um sufoco para vencer o "vovô" Coleman. |
Em
seguida Shogun enfrentou outro veterano, Chuck “The Iceman” Liddell.
Dois strikers devastadores. Shogun e Liddell fizeram um combate
respeitando os punhos um do outro, com uma trocação estratégica e ambos
em boa forma. Shogun conseguiu a vantagem assim que aplicou um leglock,
derrubou Liddell e conseguiu agarrar o americano e prensá-lo na grade.
Chuck desvencilhou-se e retornou ao centro do octógono. Liddell
recuperou-se e começou a pressionar Shogun com seus socos de longo
alcance e alguns chutes. Liddell conseguiu derrubar Shogun e cair por
cima, depois de poucos golpes, a luta voltou em pé. O que foi péssimo
para The Iceman. Shogun acertou um direto de direita bem no meio da fuça
de Chuck, fazendo a americano desabar. Mais algumas marteladas no chão
foram suficientes para o juiz Mário Yamasaki separar a luta. Era o
momento de brigar pelo título.
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Shogun acabando com Liddell. |
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Lyoto Machida: uam defesa de cinturão controversa. |
Depois
de meses de preparação, o segundo confronto havia chegado. O duelo
recebeu muita atenção da mídia em geral, o que não era comum para uma
luta de MMA. A tensão era enorme. Apesar de Lyoto e Shogun sempre se
respeitarem e afirmarem que a rivalidade era inexistente, a público
estava louco para ver o desfecho da história entre os dois. Pouco antes
da luta, Shogun teve que operar uma apendicite, o que obrigou o
curitibano a ficar um mês longe dos treinos, para desespero dos fãs do
ex campeão do PRIDE. O dia da luta chegou e Shogun mostrou que estava de
volta, fazendo um desempenho brilhante. Atacou Lyoto desde o começo,
que contra atacou como pode. Uma luta em pé, muita trocação, alternando
para alguns momentos no chão até o momento em que Shogun acertou um
cruzado de direita na têmpora de Lyoto, fazendo o campeão desabar e
caindo em cima com uma seqüência de socos que fez o Dragão desmaiar.
Shogun tornou-se o campeão dos meio-pesados do UFC e o primeiro homem a
derrotar Lyoto Machida.
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Maurício Shogun Rua: campeão dos meio-pesados do UFC. Um sonho realizado. |
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Shogun tentou, mas não foi páreo para Jon Jones. |
Shogun foi o melhor do mundo em 2005. Mas hoje deveria se aposentar.
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